JPOC - João Paulo Oliveira e Costa

Portugal na História - Uma Identidade

Imagens do livro - Fotos 28

JPOC - Imagens do livro - Foto 28 Quando o leque mudou de mãos

O arranque dos Descobrimentos corresponde a um período de reconfiguração de Portugal, pois a sua zona de intervenção alargou-se desmesuradamente e o modelo económico alterou-se drasticamente. O capítulo 9 de “Portugal na História. Uma Identidade” analisa, por isso, o período de 1415 a 1455 como o tempo da reinvenção da identidade portuguesa. Consumada essa reinvenção, Portugal contribuiu decisivamente para a reconfiguração da própria humanidade, pois, ao galgar o oceano, os portugueses desencadearam a globalização. Lisboa era, por isso, por meados do século XVI, a cidade onde se podia encontrar a maior variedade intercontinental de objectos, oriundos de civilizações desconhecidas. Esses objectos disseminavam-se depois pelo país e pela Europa, e existem hoje diversas “câmaras de maravilhas” onde coleccionadores guardaram as peças exóticas que conseguiam obter.

Os objectos chegados a Lisboa, em muitos casos, eram absolutamente desconhecidos. É o caso do leque – um abanico de origem japonesa que era colocado nos circuitos dos mares da Ásia pelos mercadores das ilhas de Ryukyu, denominadas pelos portugueses como léquias. No Japão, este objecto era usado sobretudo pelos homens da aristocracia. No entanto, esse abanico, transformado em “leque” devido à naturalidade dos seus vendedores, chegou a Lisboa sem um manual de etiqueta ou de instruções. Aparentemente, despertou o interesse das mulheres da casa real e logo se tornou num marcador de género, tal e qual o era no Japão, mas ao revés. O leque foi consagrado definitivamente como uma peça feminina por Diego Velásquez na célebre pintura “Dama com um leque”, por volta de 1640, mas quase cem anos o pintor António Moro fixara o momento em que a transformação do leque num objecto de senhora se estava operando. A imagem 28 é o retrato da infanta D. Maria (1521-1577), filha de D. Manuel I, realizado por António Moro, em 1552 e podemos ver na sua mão um leque; era o início de uma nova história deste objecto, que viria a ser um fortíssimo marcador de género por toda a Europa.