Portugal afirmou-se, inicialmente, no seio da Europa como um país territorialmente periférico, mas central do ponto de vista das ligações marítimas. Foi o mar que viabilizou a independência do reino, como se comprovou na crise de 1383-1385, quando foram as duas principais cidades marítimas que encabeçaram a resistência aos castelhanos e quando veio do mar o precioso auxílio da Inglaterra, rematado com uma aliança que seria crucial para a resistência dos portugueses aos ventos da História nos séculos seguintes.
A dimensão marítima de Portugal levou o rei D. Afonso IV a reclamar o direito da coroa às ilhas atlânticas ao afirmar, a propósito das Canárias, que o seu reino era o que estava mais próximo das mesmas. As Canárias foram disputadas por Castela até ao Tratado das Alcáçovas-Toledo (1479-80), mas a ocupação dos arquipélagos da Madeira e dos Açores nunca foi contestada pelos outros países europeus. O povoamento da Madeira e a localização dos Açores antecederam o início dos Descobrimentos, pelo que podemos afirmar que Portugal atingiu a sua dimensão definitiva antes de iniciar a expansão e o imperialismo marítimo.
A partir de meados do século XV, Portugal estava completo como um país marcado pela descontinuidade territorial e pelo controlo das águas que ligavam a Europa ao mundo tropical, dotando o país de uma relevância estratégica que se estendeu até aos nossos dias, como se comprova pelo facto de, em 1949, o país ter sido um dos países fundadores da NATO, a par de onze democracias, o que se deveu sobretudo à importância estratégica dos Açores. Logo no século XV, a Madeira assegurara uma nova fonte de rendimento, através da exportação do açúcar, e os Açores se tinham revelado como ponto de apoio à navegação que vinha do Sul em direcção à península Ibérica. Em 1580, Filipe II não se assenhoreou de imediato da totalidade de Portugal porque as ilhas do grupo central dos Açores resistiram até ao verão de 1583 – a descontinuidade territorial proporcionava, assim, uma amplitude territorial que dificultava a dominação integral do estado.
Hoje, são precisamente as ilhas que estão na base da ambição portuguesa de ver reconhecida a soberania sobre uma parte significativa do fundo do mar em seu redor – poderá vir a ser o mapa do futuro, como mostro na imagem nº 60 do livro.
O grupo central dos Açores é o espaço onde se sente de um modo mais intenso a dimensão arquipelágica de Portugal, tendo como foco incontornável da nossa atenção a montanha da ilha do Pico. Por isso, escolhi precisamente uma vista do Pico para ilustrar a dimensão insular do território português, através de uma fotografia tirada na ilha de São Jorge, nas Velas, no início de junho de 2012. A majestade do Pico fascina-me e preferi apresentá-la de uma perspectiva menos comum, pois costuma ser apresentado sobretudo pelas suas vistas a partir da ilha do Faial. Aqui acrescento uma fotografia tirada do alto da caldeira da ilha do Faial, a 4 de setembro de 2022, e outra junto à ilha Graciosa, a 11 de junho de 2021, tendo a ilha de São Jorge de permeio.
que revolucionou a humanidade.