Tirei esta fotografia a 5 de fevereiro de 2018, durante uma viagem de trabalho a Vila do Bispo, na companhia do José Bettencourt, meu colega da Universidade e do CHAM, no âmbito da cooperação com a Câmara Municipal no domínio da Arqueologia.
Sempre me fascinou pressentir a esquina de Portugal e da Europa quando estamos no cabo de São Vicente, mas aí, podemos ver a linha costeira que segue para norte e a outra que se encaminha para o Mediterrâneo, mas não conseguimos captar ambas num olhar, ou seja numa foto. Naquela tarde, porém, o nosso colega da Câmara levou-nos por caminhos de terra batida mais a norte e acabei por ter à minha vista a esquina que eu sempre admirei e fixei-a numa imagem.
Como refiro no livro, até há uns seiscentos anos aquele local era entendido como um fim de mundo, onde a Europa e todo o Velho Mundo terminavam. Para sul e oeste só havia mar, sem que se lhe soubesse a forma ou a grandeza, nem tampouco os seus habitantes e as suas características. Gregos, fenícios, cartagineses, romanos, muçulmanos ou cristãos haviam-se aventurado ocasionalmente para dentro do mar perdendo a vista de terra, pois os arquipélagos da Madeira e dos Açores já eram conhecidos no século XIV, melhor o primeiro do que o segundo. Aquela esquina assinalava, assim, de modo inequívoco o carácter periférico do território português, no contexto euroasiático e no âmbito da cristandade, mas também representava a oportunidade para a inovação.
Não admira, pois, que a base naval de onde partiram as primeiras explorações dos Descobrimentos tenha sido Lagos, a vila mais próxima do promontório, e que o infante D. Henrique tenha decidido, em 1443, construir em Sagres a sua nova residência – a sua villae, na terminologia romana, tão ao gosto dos homens do Renascimento.
A esquina de Portugal continental é como que um alfa e ómega de Portugal – ali terminava a terra, mas começava o mar, e Portugal usou o mar desde a primeira hora como meio de afirmar a sua autonomia. Ali completou Portugal a reconquista peninsular, por ali passou a armada em direcção a Ceuta e das suas imediações partiram as barcas e as caravelas que inauguraram os Descobrimentos, o processo que mudou a natureza de Portugal e que revolucionou a humanidade.