Nove anos antes de publicar “Portugal na História. Uma Identidade”, já me aventurava na amplitude do tempo longo. Assim, em 2013 apresentei então o que se pode designar como a minha primeira percepção da longa jornada portuguesa através do meu livro “Episódios da Monarquia Portuguesa”. Não foi ainda um olhar completo, nem se preocupou com os antecedentes, pelo que buscou apenas assinalar uma série de acontecimentos que me parecem ter sido marcantes na evolução da História de Portugal desde o nascimento do rei fundador até ao fim da monarquia. O facto de terminar em 1910 denunciava a minha impreparação, nessa altura, para me intrometer pelo século XX e também o facto de a obra se ter integrado no ciclo de publicações do Círculo de Leitores sobre as biografias dos reis e das rainhas de Portugal. Por isso, defini assim o livro na sua Introdução:
“Lembra acontecimentos especiais, desde os tempos que antecederam a fundação da monarquia até ao momento em que esta se extinguiu com a partida do último rei para o exílio. No entanto, embora tenha sido organizada de uma forma cronológica, evoca acontecimentos de todos os séculos, que podem ser lidos aleatoriamente, sem respeitar o modo como foram ordenados. Cada memória, cada flash, constitui uma narrativa completa que evoca um acontecimento e o enquadra na sua época, e o leitor pode saltitar de episódio em episódio como se dispusesse de uma máquina do tempo que o transportasse para a frente e para trás conforme o seu capricho, tal como nós podemos fazer quando manuseamos um álbum de fotografias”.
Esta metáfora do álbum de fotografias remete-nos, pois, para a articulação entre o acontecimento (o tempo breve) e as dinâmicas das conjunturas e das estruturas (o tempo longo) que condicionam esses mesmos acontecimentos. Neste caso, procurei mostrar, por um lado, acontecimentos únicos, normalmente insólitos, mas significativos e, por outro, episódios que provocaram rupturas ou anunciavam mudanças. O que mais me fascina na História, hoje, é precisamente encontrar estas “dobradiças” da História, como referia o meu saudoso amigo Juan Marchena Fernández, e julgo ter evidenciado algumas neste livro.
Passados nove anos, tenho consciência de que o exercício praticado com os “Episódios” foi um passo muito importante para me abalançar a conceber o “Portugal na História” que agora está pronto para entrar em circulação. E, como há nove anos, os “Episódios” podem continuar a ser lidos ao sabor do gosto de cada um, e por isso aqui vamos republicar alguns, desta vez ao sabor das efemérides. Nalguns casos a historiografia, entretanto, deu-nos mais informação e procurarei dar fé disso mesmo neste blogue.